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Tente Inventar


CORREIO BRAZILIENSE
Brasília, domingo, 28 de agosto de 2016

Tente inventar

A criatividade não é só uma dádiva ou um talento nato. É um processo resultante de tentativas, erros e acertos. Quanto mais você treinar, mais imaginação você terá

POR GLÁUCIA CHAVES
“Se quiser ter uma boa ideia, tenha antes uma porção de ideias.” Inventor da lâmpada elétrica incandescente, do fonógrafo e de muitos outros produtos revolucionários, o empresário norte-americano Thomas Edison é um ícone da criatividade. É dele também a célebre frase: “Talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Apesar de parecer subjetiva (e o ser), a inventividade é uma habilidade nata, basta observar o fantástico mundo lúdico de uma criança. Mas, se criar está em nosso DNA, por que a capacidade de inovar parece diminuir conforme os anos passam? De acordo com especialistas, a criatividade é feito músculo: basta exercitá-la diariamente para torná-la cada vez mais forte.
Satisfação pessoal e financeira são apenas algumas das vantagens de colocar o cérebro para malhar. Todo processo criativo nasce da mesma forma: da necessidade de resolver um problema. Identificar dificuldades e criar soluções, seja no ambiente profissional, seja na vida pessoal, é a interseção entre as mentes engenhosas. Quem explica é Pedro Vilanova, professor de criatividade na Brasília Marketing School. Para ele, o segundo passo na estrada rumo à originalidade é a implementação de uma “cultura criativa” ou criatividade com “c” minúsculo. “São pequenos movimentos para se tornar diariamente mais criativo. No trabalho, por exemplo, a pessoa pode observar os processos que faz todos os dias e pensar em uma solução para não perder tanto tempo com e-mails ou em alternativas mais proveitosas do que reuniões.”
Assim como manter um corpo sarado exige exercícios físicos constantes, afiar a criatividade demanda prática sempre que possível. Mas nem todo mundo que frequenta academia quer, necessariamente, se tornar um fisiculturista, certo? O mesmo acontece com a inventividade. Uma dica para não se pressionar tanto é começar a sair da zona de conforto. Segundo Pedro Vilanova, isso significa não começar algo almejando retorno financeiro ou sucesso instantâneos. “Pense em algo que vá resolver seu problema hoje e não naquilo que vá te deixar milionário”, ensina.
Soltar as amarras da mente é essencial para dar vazão a esse processo. Mas não é fácil. O primeiro inimigo da libertação mental, inclusive, são os próprios pensamentos. “As pessoas tendem a se importar com a imagem que passam, o que é normal. Mas, muitas vezes, isso traz à tona a voz de julgamento, ou seja, antes de os outros julgarem a pessoa, ela mesma tolhe qualquer pensamento que vem à cabeça. Isso mata a criatividade”, explica Vilanova. “É preciso ter capacidade de experimentar, de ser um pouco subversivo.”
O medo de errar, a vergonha de se expor e ego inflado também entram na lista de vilões. Entre eles, contudo, o ego talvez seja o mais perigoso. “A criatividade é um movimento de dentro para fora, já que, muitas vezes, o processo criativo está muito relacionado com o nosso interior”, justifica o professor. O problema é especialmente delicado quando isso engloba duas ou mais pessoas: a briga de qual ideia é “a melhor” prejudica, e muito, a construção de algo novo. “Se há mais de uma pessoa, haverá ideias conflitantes. Isso é absolutamente normal, mas é preciso aprender a domar o ego.”
Para Ana Vitória Lafetá, 28 anos, dar cara nova a velhos comportamentos e conceitos é uma habilidade indispensável a qualquer ser humano. Assessora de relações governamentais, Ana não se prende ao universo das relações internacionais, área em que se formou na faculdade. Estudante de teoria, crítica e história da arte, ela faz workshops de xilogravura, cursos de comunicação e aulas específicas para o desenvolvimento de sua veia criativa sempre que pode. “Procurei esses cursos porque percebi que estava me repetindo, tanto no trabalho quanto na faculdade”, explica. “Em uma era em que a inovação e o conhecimento regem as relações, tentar pensar além do que está sendo feito é interessante, tanto profissionalmente quanto em relação à qualidade de vida”, acrescenta.
Repensar as próprias fronteiras e dar adeus à zona de conforto foram os desafios impostos à mente. Inicialmente, porém, Ana admite que foi estranho encontrar pontos em comum entre todas as aulas. “Hoje, já consigo fazer ligações entre a área que trabalho e as artes, por exemplo. Uma experiência enriquece a outra.” Quando passou a estudar arte, inclusive, ela se deparou com a mística que envolve a criatividade, o artista e as “musas inspiradoras”. “Há o mito do gênio, mas a gente vê que tem muita ralação por trás de todo trabalho artístico”, argumenta. “Criatividade é uma habilidade que você pode desenvolver. Claro que cada um tem seu tempo, suas curiosidades e questões. Mas acho que é muito mais uma postura que se assume. Quando você percebe que consegue ser criativo, é empoderador.”


Como treinar:

● Saia da zona de conforto. Vale tudo: tire um dia inteiro para pintar, leia coisas não relacionadas a sua área profissional, visite locais diferentes;
● Pense em formas novas de resolver problemas pequenos. Será que dá para separar uma parte do dia só para ler e responder e--mails?? O método de organização da sua rotina é o mais eficiente possível?;
● Amplie seus horizontes. Isso não quer dizer que você precise pular de paraquedas amanhã, mas procure fazer algo diferente todos os dias e, talvez, novas possibilidades se apresentem. Almoçar em um local diferente, por exemplo, pode fazer com que você conheça um instrutor de saltos em paraquedas;
●Quanto mais referências, melhor. Criatividade é a associação de conhecimentos, de relaçõs e de possibilidades, que dependem da quantidade de referências que você possui. Em suma: quanto mais disposto a conhecer coisas novas, mais fácil será o processo criativo.


Fontes: Dario Joffily e Pedro Vilanova

 

Vai lá e faz

O estudante de publicidade João Pedro garante que o segredo é ver “de um jeito criativo as coisas banais”

O próprio cargo de Dario Joffily, na escola de processos criativos Perestroika, de cara, dá uma dica da vibe inventiva do método. “Pode colocar diretor de ‘whatever’”, disse o jovem de 23 anos à reportagem. O “diretor de qualquer coisa”, em tradução livre, explica que um dos pontos chave da criatividade é um lemansimples: vai lá e faz. “Tudo o que temos no mundo são ideias que precisam de execução ou de praticidade”, justifica. “Não tem que ficar titubeando. Na dúvida, tem que testar.”
Em matéria de criatividade, não há resposta certa ou errada. Compreender o processo, segundo Dario, é mais importante do que, necessariamente, chegar ao fim dele— até porque, nada garante que ele não vá tomar rumo próprio, bem distante do inicialmente planejado. “Temos um curso voltado só para isso, chamado Yakuza. Convidamos pessoas de várias áreas, como literatura, fotografia e quadrinhos, e associamos quem entende sobre processo criativo para mostrar possibilidades diferentes”, explica Joffily.
“O processo criativo nada mais é do que o quanto você, enquanto pessoa ou profissional, está disposto a gerar ideias de uma nova forma.” A busca por novos insights passa, ainda, por outro ponto crucial: as referências. Ouvir músicas diferentes, ir a exposições, teatros, assistir filmes, tudo conta. “Eu não sei de onde vai vir uma ideia, então, não sei o que tenho que pesquisar para ter a próxima. Estar disposto para o novo é a única forma de criá-lo.”
João Pedro Doederlein, 20 anos, sempre se considerou uma pessoa criativa. Justamente por isso, ele escolheu cursar publicidade, como uma forma de trabalhar com a imaginação. O ambiente acadêmico, contudo, não foi muito animador nesse quesito. “Queria algo diferente, que incentivasse a participação das pessoas, não uma aula horizontal”, explica João, que também é escritor. Pensando nisso, participou de uma aula de criatividade na Perestroika.
Assim como muitos especialistas no assunto, João interpreta a capacidade de inventar como algo a ser praticado sempre, desde a infância. Assim, ele acredita, crianças com poucos brinquedos têm que inventar com o que brincar. Isso, por si só, já seria treinar a criatividade. “A criatividade é muito de momento, precisa de timming. Varia muito de pessoa para pessoa e não tem como ser comparada. Acredito que seja um tipo de inteligência, como a lógica, a espacial e a linguística”, completa o estudante.
Depois do curso, a mente de João começou a borbulhar. Projetos engavetados foram recuperados. A aula do escritor pernambucano Marcelino Freire teve especial impacto no ímpeto “fazedor” de João. “Ele disse que todo mundo pode ser um bom escritor. As pessoas não querem ler o senso comum, querem a opinião do escritor sobre aquilo, seja um universo criado, um romance, seja uma análise sobre a situação política”, justifica. “Comecei a me perceber, perceber a minha visão das coisas, especialmente das coisas comuns. Hoje, consigo ver de um jeito criativo as coisas mais banais.”

 

Invencionice científica

O comportamento humano e a criatividade são interesses recentes da neurociência cognitiva. De acordo com Francisca Leão, neuropsicóloga do Instituto de Medicina e Psicologia Integradas, conceitos de áreas como a psicologia e a neuropsicologia servem como base para as pesquisas. “Estudos novos focam nos processos cognitivos que poderão ser importantes na manifestação da novidade e na adequação dentro de um determinado contexto. A inteligência e o pensamento divergente têm merecido maior destaque por parte dos cientistas”, detalha. Plasticidade, comportamento e personalidade, ela continua, são os princípios básicos que interagem com a manifestação criativa do sujeito. “É importante mostrar que a criatividade não é exclusiva dos gênios, mas uma atividade comum do nosso aparato biológico.”
O conceito de criatividade, explica Francisca Leão, pode ter definições diferentes, a depender da área de conhecimento em que atua. Um dos conceitos pode ser a criatividade como sendo a capacidade de gerar ideias ou artefatos surpreendentes e importantes; a produção de produtos novos e úteis; a capacidade de gerar um trabalho que seja novo (original, imprevisível) e apropriado (adaptável). “Outro conceito define criatividade como um produto de vários processos mentais que ajudam na visão criativa da descoberta”, completa. A criatividade se revelaria, então, no encontro de fatores emocionais e cognitivos, como capacidades e conhecimentos relevantes sobre determinado assunto e, claro, no estilo próprio da pessoa.
O entendimento da criatividade, portanto, é multidimensional. Além da cognição, Thiago Damasceno, psiquiatra do Instituto de Medicina e Psicologia Integradas, explica que processos de ordem motivacional, pessoal, emocional e contextual também estão envolvidos. O médico esclarece que, geralmente, criativos são dotados de um repertório genético e, além disso, recebem constantes estímulos ambientais que favorecem a aquisição e o armazenamento de conhecimentos cognitivos/emocionais, externos/internos. “Somado a isso, há uma personalidade que favorece a resolução de problemas, a criação de produtos ou interpretação de novas questões sobre o meio em que atua”, reforça.
A criatividade pode, ainda, ter alguma influência na saúde mental da pessoa.“ A etimologia da palavra, que provem do latim (creare) e do grego (krainein). Ambos os sentidos sugerem uma integração entre o fazer e o ser”, define Thiago Damasceno. Em outras palavras: descobrir-se capaz de realizar atividades, a princípio distintas, do que se faz no dia a dia aumenta a autoestima.
Na neurociência, Thiago Damasceno explica que já existem técnicas de avaliação e de aprimoramento da criatividade. “O neurofeedback, por meio da estimulação de ondas cerebrais, é capaz de induzir a um estado maior de criatividade”, exemplifica o especialista. “Associando a exercícios específicos—resolução de problemas; criação de textos a partir de palavras pré-escolhidas; atividades de colagens, que trabalham a flexibilidade cognitiva, como exercícios de estratégias; entre vários outros—a essa técnica, é possível potencializar a inteligência criativa.”

 

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Matéria publicada no Correio Braziliense no dia 28 de agosto de 2016

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Casseta & Planeta, Sensacionalista e inovação


Casseta e Planeta

Eu adoro Casseta & Planeta.

Se você nasceu no final dos anos 90 e pegou apenas a fase descendente da finada atração, não ache que eu perdi o juízo. Casseta & Planeta já foi um dos programas de maior prestígio da televisão. Imortalizados com tom irônico e texto ácido.

Mas sem saudosismo, eu gosto mesmo desse formato de humor cotidiano. Na verdade, eu e todo mundo. Ou você nunca se pegou rindo ou compartilhando as postagens do Sensacionalista na sua timeline?

Sim, o Sensacionalista é o novo Casseta & Planeta. E veja bem: isso não quer dizer que seja plágio. O nome disso é criatividade. E não só a criatividade na entrega do produto final, isto é, textos humorísticos. É a capacidade de se readaptar.

O crescimento de um e o sumiço do outro não é coincidência. É que por mais que nossas preferências continuem bem parecidas, o jeito que elas se manifestam muda.

Essa dinâmica é normal.

Isso explica por que o Fiat 147 já foi o carro do ano e hoje só é visto em feiras de antiguidades. E nem por isso deixamos de andar de carro.

A criatividade é o caminho para que a gente se encaixe perfeitamente nesse ciclo e ofereça sempre algo interessante para o mundo.

Tudo é uma questão de momento e percepção, que são dois pontos cruciais para se inovar. Porque inovar é criar. E criar é observar e mover-se.

Até pra fazer piada, é preciso saber disso.

Não é fácil, mas pode se tornar natural. E existem algumas maneiras de se chegar a uma cultura criativa e de inovação. Várias delas serão discutidas no próximo curso de Criatividade para todos da BMS.

Basta clicar e se inscrever. Porque você não quer que sua carreira se torne uma reprise do Canal Viva, né?

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